Relato de
florencio rekayg fernandes
kaingáng


Transcrição em Português

FLORENCIO: Em Mangueirinha eles já [incompreensível] mais que o Rio das Cobras. Então aqui eles já começam com as madeiras lascadas retiradas com machado na cobertura e a parede. Não sei se lá teve também essas casas de folha de jerivá lá em Mangueirinha, mas aqui a gente já percebe. E a questão também porque geralmente essas coberturas são de pinheiro né? Então acho que tem essa questão também de que em Mangueirinha tem bastante pinheiro e no Rio das Cobras não tem quase nada. Acho que isso também levou eles a fazerem essas casas antes do Rio das Cobras. O Rio das Cobras usou mais jerivá porque era o que tinha bastante aqui né e pinheiro bem pouco.

FLORENCIO: Ali [morava] provavelmente uma família só, então começa com o casal e depois vai aumentando a família e contrói outra [casa]. Mas não segue uma linha assim de “ó, vamos fazer um círculo ou vamos fazer um retângulo.” Eles vão colocando as casas conforme tem os espaços lá. Mas são próximas então provavelmente é uma família só. Aí que deu origem às aldeias -não só Mangueirinha mas também às outras aldeias Kaingáng- Que daí vai formando, vai aumentando a família, constrói outra e assim foram formadas as aldeias.

FLORENCIO: Geralmente eles colocam em relação a posição dela... elas seguem a mesma posição. Não sei se vocês perceberam ali. Elas ficam na mesma posição que é o sentido do sol. Onde o sol nasce é onde fica a porta e onde o sol se põe é as costas da casa. Pode ver que a posição das casas é direcionada na mesma posição. Aí nós entramos naquela questão do kamẽ e kanhru de Telemaco Borba, da posição do sol, dos raios do sol, das energias recebidas na manhã. Então tem toda essa questão aí. Kanhru seria a parte de trás por que pegaria sombra à noite que daí seria a lua e toda aquela questão das pinturas. Mas a posição das casas geralmente é a porta recebendo a luz do dia até pela questão na outra conversa nós colocamos que as casas não tem janelas por isso também que elas são viradas para o sol. Para iluminar a casa né? Senão você vai pegar sombra de manhã e vai ficar escura a casa. Geralmente as portas são viradas para o sol pra clarear o dia né, com os raios solares. Então tem todas essas questões ali que percebo.

FLORENCIO: Como a foto é de Mangueirinha, diferente dos Guarani que constroem em lugares mais altos pelo que eu conheço, porque nós moramos com o pessoal de Morretes na serra onde a casa de reza pediram pra colocar num lugar bem alto, no topo do lugar mais alto. Mas aqui como é Mangueirinha é um lugar muito frio e que venta muito então lá tem bastante geada, então até por essa questão né, pra não pegar muito vento escolhem lugares baixos. Porque se eles colocassem naquela parte alta pegava mais vento, pegava mais frio. Até por conta também dos pinheiros que tem lá e em outros lugares pra não correr o risco dos galhos caírem em cima da casa. Porque o galho do pinheiro que cair nessas casas aí desmonta, né? Então tem todas essas questões que eles observam, você pode ver que não tem pinheiro nem nada dos lados, acho que a escolha do local também leva em consideração essa questão das árvores maiores como lá é terra de pinheirais. (...). Pra não correr o risco de dar um vento e derrubar os galhos ou até a própria pinha do pinhão, se cair numa casa dessas faz um estrago, deixa um buraco no teto.


Relato de
florencio Rekayg Fernandes
Kanhgág


Transcrição em Português

FLORENCIO: Em Mangueirinha eles já [incompreensível] mais que o Rio das Cobras. Então aqui eles já começam com as madeiras lascadas retiradas com machado na cobertura e a parede. Não sei se lá teve também essas casas de folha de jerivá lá em Mangueirinha, mas aqui a gente já percebe. E a questão também porque geralmente essas coberturas são de pinheiro né? Então acho que tem essa questão também de que em Mangueirinha tem bastante pinheiro e no Rio das Cobras não tem quase nada. Acho que isso também levou eles a fazerem essas casas antes do Rio das Cobras. O Rio das Cobras usou mais jerivá porque era o que tinha bastante aqui né e pinheiro bem pouco.

FLORENCIO: Ali [morava] provavelmente uma família só, então começa com o casal e depois vai aumentando a família e contrói outra [casa]. Mas não segue uma linha assim de “ó, vamos fazer um círculo ou vamos fazer um retângulo.” Eles vão colocando as casas conforme tem os espaços lá. Mas são próximas então provavelmente é uma família só. Aí que deu origem às aldeias -não só Mangueirinha mas também às outras aldeias Kaingáng- Que daí vai formando, vai aumentando a família, constrói outra e assim foram formadas as aldeias.

FLORENCIO: Geralmente eles colocam em relação a posição dela... elas seguem a mesma posição. Não sei se vocês perceberam ali. Elas ficam na mesma posição que é o sentido do sol. Onde o sol nasce é onde fica a porta e onde o sol se põe é as costas da casa. Pode ver que a posição das casas é direcionada na mesma posição. Aí nós entramos naquela questão do kamẽ e kanhru de Telemaco Borba, da posição do sol, dos raios do sol, das energias recebidas na manhã. Então tem toda essa questão aí. Kanhru seria a parte de trás por que pegaria sombra à noite que daí seria a lua e toda aquela questão das pinturas. Mas a posição das casas geralmente é a porta recebendo a luz do dia até pela questão na outra conversa nós colocamos que as casas não tem janelas por isso também que elas são viradas para o sol. Para iluminar a casa né? Senão você vai pegar sombra de manhã e vai ficar escura a casa. Geralmente as portas são viradas para o sol pra clarear o dia né, com os raios solares. Então tem todas essas questões ali que percebo.

FLORENCIO: Como a foto é de Mangueirinha, diferente dos Guarani que constroem em lugares mais altos pelo que eu conheço, porque nós moramos com o pessoal de Morretes na serra onde a casa de reza pediram pra colocar num lugar bem alto, no topo do lugar mais alto. Mas aqui como é Mangueirinha é um lugar muito frio e que venta muito então lá tem bastante geada, então até por essa questão né, pra não pegar muito vento escolhem lugares baixos. Porque se eles colocassem naquela parte alta pegava mais vento, pegava mais frio. Até por conta também dos pinheiros que tem lá e em outros lugares pra não correr o risco dos galhos caírem em cima da casa. Porque o galho do pinheiro que cair nessas casas aí desmonta, né? Então tem todas essas questões que eles observam, você pode ver que não tem pinheiro nem nada dos lados, acho que a escolha do local também leva em consideração essa questão das árvores maiores como lá é terra de pinheirais. (...). Pra não correr o risco de dar um vento e derrubar os galhos ou até a própria pinha do pinhão, se cair numa casa dessas faz um estrago, deixa um buraco no teto.