Relato de
florencio rekayg fernandes
kaingáng


Transcrição em Português

FLORENCIO: (...) socando milho pra fazer a comida. Daí sai a canjica, aí sai o bolo de milho. Por que é ele é triturado/socado ali então sai canjica, vai sair ali a farofa também. Porque no pilão a gente também pode fazer a farofa ali. Nós chamamos de mẽnhu, que é milho torrado na panela que depois é levado também nesse pilão ou nesse monjolo onde ele é socado. Eu lembro que eles davam pra nós... você pode ver que tem uma criança do lado, então provavelmente vai sair dali uma... é como se fosse um milho torrado que vira como se fosse chocolate de comer de colher. Acho que muitos de vocês já fizeram também, ou com leite ninho. O milho torrado e depois socado ele virava tipo um pózinho e nossos pais davam pra nós num copinho com açúcar junto e comia. Ou também vira uma sopa né, mata um frango, junta e faz uma sopa com carne e esse milho torrado. É bem gostoso! Quando vocês vierem pra cá eu faço pra vocês.

FLORENCIO: Sim, geralmente essa parte de preparar a comida e todo esse processo ali são das mulheres. Nós homens só puxavamos o milho, as espigas né... essa parte mais pesada. Não que a questão de bater não fosse pesada também porque ali é angico né? Não é qualquer madeira leve que elas levantam e tem que ter um pouco de força pra você poder bater. Então quanto tiver mais gente aí você percebe o sincronismo das mulheres que não batem todas ao mesmo tempo, senão não sai nada. É tipo um, dois, três... um, dois, três... Um bate na sequencia da outra por que se as três baterem junto daí já dá “B.O.” e não segue essa linha.

BRUNNO: E geralmente essa ação ela era feita ao redor das casas principais da família? Geralmente tinha essas estruturas ao lado onde a família produzia e fazia todo esse processamento do alimento?

FLORENCIO: Ahã[Sim]! E interessante a casa ali... A perfeição da cobertura. Essa casinha que vou fazer... Semana que vem eu já vou construir a minha daí vou mostrando e passando as fotos pra você de todo o processo: construção, escolha das madeiras. Aí vou fazer perto da minha casa que estou construíndo essa de jerivá que já conversei com o rapaz aqui. Aí lá posso fazer as entrevistas com o artesão que vai construir pra mim. Vou ficar lá só observando, mas eles que vão construir pra mim. Vou poder registrar tudo isso, porque não tenho nenhum registro deles fazendo aqui em Rio das Cobras(...).


Relato de
florencio Rekayg Fernandes
Kanhgág


Transcrição em Português

FLORENCIO: (...) socando milho pra fazer a comida. Daí sai a canjica, aí sai o bolo de milho. Por que é ele é triturado/socado ali então sai canjica, vai sair ali a farofa também. Porque no pilão a gente também pode fazer a farofa ali. Nós chamamos de mẽnhu, que é milho torrado na panela que depois é levado também nesse pilão ou nesse monjolo onde ele é socado. Eu lembro que eles davam pra nós... você pode ver que tem uma criança do lado, então provavelmente vai sair dali uma... é como se fosse um milho torrado que vira como se fosse chocolate de comer de colher. Acho que muitos de vocês já fizeram também, ou com leite ninho. O milho torrado e depois socado ele virava tipo um pózinho e nossos pais davam pra nós num copinho com açúcar junto e comia. Ou também vira uma sopa né, mata um frango, junta e faz uma sopa com carne e esse milho torrado. É bem gostoso! Quando vocês vierem pra cá eu faço pra vocês.

FLORENCIO: Sim, geralmente essa parte de preparar a comida e todo esse processo ali são das mulheres. Nós homens só puxavamos o milho, as espigas né... essa parte mais pesada. Não que a questão de bater não fosse pesada também porque ali é angico né? Não é qualquer madeira leve que elas levantam e tem que ter um pouco de força pra você poder bater. Então quanto tiver mais gente aí você percebe o sincronismo das mulheres que não batem todas ao mesmo tempo, senão não sai nada. É tipo um, dois, três... um, dois, três... Um bate na sequencia da outra por que se as três baterem junto daí já dá “B.O.” e não segue essa linha.

BRUNNO: E geralmente essa ação ela era feita ao redor das casas principais da família? Geralmente tinha essas estruturas ao lado onde a família produzia e fazia todo esse processamento do alimento?

FLORENCIO: Ahã[Sim]! E interessante a casa ali... A perfeição da cobertura. Essa casinha que vou fazer... Semana que vem eu já vou construir a minha daí vou mostrando e passando as fotos pra você de todo o processo: construção, escolha das madeiras. Aí vou fazer perto da minha casa que estou construíndo essa de jerivá que já conversei com o rapaz aqui. Aí lá posso fazer as entrevistas com o artesão que vai construir pra mim. Vou ficar lá só observando, mas eles que vão construir pra mim. Vou poder registrar tudo isso, porque não tenho nenhum registro deles fazendo aqui em Rio das Cobras(...).