







MP.KO.7117
Vladimir Kozak, Serra dos Dourados/PR, s.d.
Relato de
CLAUDEMIR DA SILVA E DIVAL DA SILVAXETÁ
Transcrição em Português
Brunno Douat: A gente gostou muito dessa foto, que ela mostra um momento íntimo, familiar no interior dos tapuis, das construções Xetá. É uma das poucas fotos bem tiradas do interior, na parte de dentro das construções, a gente ficou muito interessado nessas dinâmicas, nesses locais de relações pessoais, de relações familiares em relação com essa construção. Então assim, qual é a percepção de vocês vendo essa fotografia, o que vocês veem nela, o que vocês identificam, porque ela também tem elementos construtivos, umas imagens próximas das técnicas são várias questões, tanto pessoais, quanto relações familiares, até utensílios, quanto questões construtivas, o que vocês veem nessa imagem?
[...]
Claudemir da Silva Xetá: Na verdade, é uma tapui, aqui é uma família que está dentro da sua casa e aqui é um casal com seus filhos. Na verdade, o Indígena está fazendo um barbante de flecha e a esposa dele está ajudando, ou seja, eles tão dentro da casa deles fazendo o trabalho do dia a dia.
Brunno Douat: E essas casas, esses tapuis Claudemir e Dival eles eram mais individuais, eram uma família por tapui? Eram lugares mais reclusos assim de intimidade?
Claudemir da Silva Xetá: É igual hoje, cada um de nós temos nossas casas. A partir da hora que a gente arruma uma companheira a gente tem cada um sua tapui pra sua família, é uma representação. Agora apoengue, que é a casa grande é um local de encontro e de festa, ou seja, igual hoje que tem uma danceteria, um salão de festa, mais ou menos assim. Aqui não, aqui nessa foto é uma casa que eles vivem o dia a dia deles, do casal.
Brunno Douat: Aqui a gente vê uma imagem mais aproximada da estrutura, coisas mais técnicas até. Vocês conseguem dizer aqui, qual tipo de madeira, qual tipo de folhagem que tradicionalmente eram feitas essas construções, esses tapuis?
Claudemir da Silva Xetá: Ela é de folha de jerivá, a cobertura e a estrutura dela é feita de marfim amarrado com cipó envolta [...] eles fazem a estrutura e em seguida eles põem essas folhas [...]
[...]
Brunno Douat: [...] por mais que seja uma tarefa mais técnica, enfim um ofício de trançar a questão das flexas e tudo mais, ela dá uma ideia muito de intimidade até, por ter essa questão da ideia unifamiliar. E esse fechamento dos tapuis, tem uma entrada principal assim, tem algum outro ou elemento dentro dos tapuis geralmente, vocês têm algum conhecimento de que sirva de biombo, uma divisória dentro do tapui, na hora de dormir ou …
Claudemir da Silva Xetá: Não, não tem porta de lado nenhum. É só uma cobertura que nem meu pai falava pra nós, quando ele começava a contar as histórias que se via tudo no mato, só os homens tinham uma canga na frente, então eles enxergavam os outros mesma coisa como nós enxergamos hoje. Vamos supor, nós vestimos as roupas normalzinho, então eles se viam a mesma coisa certo? Então cada uma via a família do outro, não tinha nada fechado era só a cobertura mesmo. E a partir da hora que cada um tinha sua companheira aí cada um tinha sua tapui particular [...] o respeito deles é como o nosso de hoje.
[...]
Marina Obba: Eu fiquei curiosa pra saber como vocês sabem que ele tá trançando um barbante de arco?
Claudemir da Silva Xetá: Aqui dá pra você ver. Vocês não sabem quem é esse indígena né? (...) esse aqui é o Iatucán irmão do Tumã. Essa aqui é a família dele. Certo? Lembrou agora?
Jose: Lembrei! Ele era famoso de fazer flecha?
Claudemir da Silva Xetá: Na verdade, esse barbante que ele está trançando não é pra flecha é pra armadilha, pra pegar anta, veado, capivara. Eles enrolam esse barbante de caraguatá, eles lavam o pé da folha, faz o rolo, amarra com um cipózinho e vai e enterra no barro. Deixa lá coisa de 10 a 15 dias depois tira ele desfia tudo, leva pro rio e lava bem lavadinho, ponha pra seca e em seguida vão fazer o processo pra fazer esse barbante que você está vendo ele enrola. Então esse é um barbante pra armadilha, não pra flecha.
[...]
Ingrid Schmaedecke: Eu fiquei com uma dúvida em relação a foto de antes. Esse suporte, como se fosse um prato comprido, uma coisa que está sendo colocada algumas coisinhas ali, o que é isso?
Claudemir da Silva Xetá: É canoa de coqueiro. Sabe aquela capinha quando o coqueiro está solando o cacho de coco não solta uma capinha que parece uma canoinha? [...] Eles usavam pra colocar as coisinhas. Tinha várias utilidades pra eles, preparar a banha de um assado, ponha o mel, ponha uma carne. Aqui eles usam pra tudo isso, quando eles tão fazendo o trabalho deles ponham as coisas aqui dentro também. Então é isso.
Ingrid Schmaedecke: E não tem nenhuma preparação pra usar?
Claudemir da Silva Xetá: Eles pegam é bruto, só ponham ali e usam.