A Dimensão Imaterial do Habitar e Construir Indígenas



metoDologia 

Com o recrudescimento dos efeitos da pandemia no início de 2021, nos meses iniciais das atividades do projeto, tivemos que repensar ações e também respeitar tempos não previstos.

O acesso ao acervo do Museu Paranaense, inicialmente fechado em função da pandemia, e às aldeias, fechadas para visitas externas em razão da necessidade de isolamento social das comunidades, foram restrições que acarretaram no alargamento dos tempos de ação do projeto. Também nos vimos enfraquecidos pela contaminação por covid-19 de integrantes da equipe, e tudo isso dificultou perceber e entender que o projeto deveria caminhar apesar das incertezas do contexto de plena ascensão da pandemia.

Em quase sua totalidade os trabalhos do projeto, idealizado inicialmente para ocorrer a partir de encontros presenciais, tanto da equipe entre si quanto nas ocasiões de entrevistas com indígenas nas aldeias, tiveram de ser adequados para o formato virtual. Sua base foram os encontros semanais entre a equipe, seguindo pautas específicas e etapas diversas através de aplicativo de videoconferência.

Um aspecto que não foi remoto, envolve as entrevistas com anciãos da Terra Indígena Rio das Cobras. O antropólogo Kanhgág da equipe, Florêncio Rekayg Fernandes, além de ser um dos entrevistados, em razão do profundo conhecimento e do interesse por matérias da própria cultura, foi o mediador de outras entrevistas na terra indígena referida. Sendo morador do local, e entendendo as condições de segurança necessárias aos procedimentos, Florêncio realizou entrevistas presenciais com os anciãos supracitados, Judite e Antonio, conduzidas na língua indígena. Estas entrevistas foram gravadas por meio de aplicativos de gravação de áudio.

Os diálogos com os representantes ou referências, como nós decidimos nominá-los, Florêncio, Dival, Claudemir e Elias, ocorreram remotamente e foram gravadas em aplicativos de videoconferência.

Embora estes representantes indígenas tivessem acesso à internet, a maioria deles opera por meio de aparelhos telefônicos, celulares, algo que dificultava a visualização das imagens do acervo em tempo real durante as entrevistas por videoconferência. Esta dificuldade acabou impulsionando a decisão da impressão e envio prévio das reproduções fotográficas, que se mostrou fundamental não somente para a operacionalização dos encontros onde os indígenas tinham em mãos as imagens e podiam manipulá-las, mas como uma espécie de material de estudo, porque permitia aos indígenas pensarem com as fotografias antes de realizarmos os encontros, e ficando em sua posse posteriormente a eles.

No processo, a equipe também constatou a necessidade de apreender visualmente, na forma de mapas, os espaços habitados pelos comentadores/entrevistados indígenas hoje, compreendendo a inseparabilidade da reprodução da vida e das tradições indígenas e o território sobre o qual ela ocorre.

Os mapas então foram desenvolvidos a partir de uma metodologia colaborativa em que,  a partir de encontros virtuais com os representantes citados, buscamos representar partes do território indígena do ponto de vista dos relatos de quem os habita. Esse processo envolveu a realização de passeios virtuais, guiados pelos representantes dos povos indígenas, através de imagens aéreas e mapas-base impressos e enviados a eles, apontando questões próprias relativas ao construir e ao habitar indígena — tipologias de construção, lugares de importância para os indígenas, a estruturação espacial das terras, aldeias e núcleos familiares, a relação com o território natural —, sendo o material resultante transformado posteriormente em produto gráfico.

Finalmente, depois de todas as dinâmicas envolvendo nossos colaboradores, iniciamos o processo de tratamento final das imagens do acervo envolvidas nas interlocuções. Como produtos para o site, intencionamos “brincar” com algumas das imagens, isto é, fazer pequenas inserções que destacassem elementos cuja distinção não é imediata e que foram identificados a partir dos relatos. Um exemplo diss foi o uso de máscaras de cor, cada uma das imagens foi editada de modo a potencializar os contrastes, por exemplo, entre construção e contexto — identificando elementos construídos em meio à mata ou entre o habitar e o habitat —, e salientando e identificando os indígenas que figuram nestes registros.